Parintins e o retrato de uma Amazônia sufocada

Enquanto as autoridades locais silenciam, a cidade que vende para o mundo a imagem de preservação da Amazônia no seu Festival Folclórico, sua população segue diariamente intoxicada pela fumaça proveniente de queimadas numa crise sem precedentes

20/11/2023 às 19h13 Atualizada em 21/11/2023 às 12h01
Por: Vinícius Bellchior
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Centro de Parintins tomado por fumaça no último sábado (18) - Foto cedida por uma moradora
Centro de Parintins tomado por fumaça no último sábado (18) - Foto cedida por uma moradora

Em mais um capítulo da crise climática em Parintins, município distante 369 quilômetros da capital do Amazonas, Manaus, foi registrado nesse fim de semana - especificamente no sábado (18) - mais um ápice da fumaça que encobre a cidade há meses, além de registrar focos de incêndios em sua área urbana e rural.

 Foto ao lado da Catedral - um dos símbolos da cidade completamente tomado por fumaça no último sábado - Foto: Reprodução/Redes sociais

De acordo com informações do superintendente do Ibama/AM, Joel Araújo, Parintins é o município com maior índice de focos de queimadas no Amazonas, principalmente na região da Gleba de Vila Amazônia. 

O Circuito Escorpião (próximo ao Bumbódromo), local frequentado principalmente para realização de caminhadas e outros exercícios físicos, tomado por fumaça - Foto: Mateus Davi

"Esses incêndios são causados pela ação humana, são pessoas que querem fazer a limpeza dos seus roçados. Em alguns casos são pecuaristas, são pessoas que tem fazenda e colocam fogo no campo para renovar o pasto", explica.

Combate a incêndios no interior de Parintins - Foto:Divulgação/Ibama

Joel diz ainda que há registros de focos de incêndios em áreas pertencentes a pequenos produtores. "Então é também o pequeno produtor, é a pessoa da agricultura familiar que está usando indevidamente o fogo. A floresta está seca e propícia ao incêndio", afirma o superintendente. 

Brigadistas do Ibama - Foto: Divulgação/Ibama

A crise no sábado

Com registro de vários incêndios pela cidade no sábado (18), a longa noite do parintinense teve como causa a fumaça oriunda dessas queimadas. Pontos turísticos da cidade ficaram praticamente encobertos pela fumaça tóxica que causou incômodo nos moradores da cidade. Nas redes sociais, não faltaram comentários a respeito dessa crise sem precedentes.

A Praça dos Bois, um dos locais mais frequentados da cidade também ficou tomado po fumaça - Foto: Mateus Davi

Em alguns pontos da cidade, a fumaça chegou a invadir as residências. "Aqui em casa até joguei água pelo chão para ver se passa mas é muita fumaça aqui dentro", comentou uma moradora em sua rede social. "Meus olhos estão ardendo de tanta fumaça e fora meus pulmões que já estão pedindo socorro", comentou outra.

Incêndio registrado na área urbana da cidade - Foto: Reprodução/Redes Sociais

Ao BNC Amazonas, o subcomandante do Corpo de Bombeiros de Parintins, tenente Geandro Oliveira afirmou que todos os dias o município atende de 4 a 5 incêndios em vegetação em sua área urbana. O monitoramento na zona rural é realizado por meio das plataformas Nasa Firms e Painel do Fogo, e dessa forma é traçada as estratégias para os respectivos combates. "Estamos na luta 24h por dia", destaca o comandante ao BNC.

Na foto detrás do Bumbódromo - outro símbolo da cidade - também é visível a péssima qualidade do ar - Foto: Mateus Davi

O silêncio das autoridades no município

Desde o início da crise da fumaça que prejudica a população em Parintins, o prefeito da cidade, Frank Bi Garcia (União Brasil) ainda não se pronunciou oficialmente sobre o assunto, nem muito menos a maioria dos 13 vereadores da Câmara Municipal.. O JORNALISMO PARINTINS entrou em contato com Bi Garcia mas não obteve retorno. Somente na tarde desta segunda-feira (20), é que a Prefeitura de Parintins - depois de meses - se pronunciou sobre a fumaça e queimadas em Parintins. 

Segundo informações divulgadas pela prefeitura, a Secretaria de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Sedema) tem atuado em parceria com brigadistas do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (PrevFogo) do Ibama principalmente na zona rural do município.

 Ibama no combate aos incêndios na zona rural de Parintins - Foto: Divulgação/Ibama

Além disso quatro brigadistas contratados pela Prefeitura e Sedema auxiliam o Corpo de Bombeiros, e desde setembro até agora, foram 56 ocorrências atendidas, segundo a prefeitura. 

De acordo com o chefe da Brigada PrevFogo do Ibama, Eliab Silva, a principal dificuldade é entrar nas propriedades particulares para chegar aos focos de incêndios. Ele relatou o caso de um dono de terreno na comunidade de Toledo Pizza, zona rural de Parintins, que não permitiu a entrada da Brigada.

Foto: Divulgação/Secom Parintins

Ainda segundo a prefeitura, a grande preocupação da Sedema é quanto a negativa dos produtores rurais. Apesar das orientações e apelos, eles continuam fazendo queimadas em roçados que acabam saindo do controle e propagando incêndios de grandes proporções. 

Área devastada pelo fogo na zona rural - Foto: Divulgação/Secom Parintins

Segundo a secretária da Sedema, Socorrinha Carvalho, ela tem feito vários apelos por meio das emissoras de rádio - principal meio de comunicação na região - orientando que, nesse momento de intensa estiagem, a população não deve fazer queimadas e que sem essa conscientização da população será difícil mitigar os impactos causados pelo fogo. 

"Desde o mês de agosto, a Sedema vem trabalhando em campanhas educativas nas escolas, nos programas de rádio e nas comunidades rurais, visando orientar e conscientizar a população sobre a proibição de queimadas em terrenos baldios e lixo de quintal. Proprietários de áreas com focos de incêndios foram notificados e multados", informa a prefeitura.

Apelo em favor da vida

Em campanha publicada nas redes sociais, um grupo de pessoas formado por entre outras coisas, por professores, escritores e militantes pelo meio ambiente, cobram das autoridades públicas uma enérgica ação contra as queimadas e a fumaça que sufoca o parintinense diariamente.

"Não podemos silenciar enquanto a floresta queima e somos sufocados pela fumaça. É preciso gritar, mobilizar a população e pressionar as autoridades. Caso contrário, nossa apatia e indiferença cobrarão de todos nós um preço muito alto", diz a chamada da campanha.

Joel Araújo diz que a sociedade tem que fazer a sua parte para que os focos de incêndios não se propaguem, porque isso pode agravar ainda mais a crise da fumaça.

 Brigadista no combate aos incêndios florestais - Foto: Secom Parintins

"Não vai adiantar nós termos Ibama atuando, Secretaria Municipal de Meio Ambiente atuando, Governo do Estado atuando e também os bombeiros, se a comunidade continua atear fogo para limpeza do roçado. Temos que parar de usar o fogo nesse momento", apela Joel Araújo. 

Por: Vinícius Bellchior Bruce - Graduado em Comunicação Social - Jornalismo, pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM) - Campus Parintins. 

Vinícius Bellchior - Equipe JORNALISMO PARINTINS 

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