Pesquisa analisa a desconstrução da paisagem da antiga Praça do Cristo, em Parintins

A pesquisa busca analisar a desconstrução da antiga paisagem da praça no decorrer dos anos

31/05/2023 às 18h03 Atualizada em 21/08/2023 às 19h08
Por: Vinícius Bellchior
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Praça do Cristo Redentor na década de 1960 - Foto: Arquivo de Ellen Cansanção
Praça do Cristo Redentor na década de 1960 - Foto: Arquivo de Ellen Cansanção

Intitulada “Praça Digital Cristo Redentor e a desconstrução da identidade de um fragmento do espaço urbano de Parintins – AM”, a pesquisa de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do egresso do curso de Geografia, da Universidade do Estado do Amazonas – Campus Parintins, Bryan Baima, busca analisar a desconstrução da antiga paisagem da praça no decorrer dos anos, tendo como consequência, uma perda da identificação estética e paisagística de seus frequentadores, não apresentando mais as características da paisagem antiga que estão presentes na memória afetiva da população.

O processo de transformação da Praça

Antiga Praça Cristo Redentor - Foto: Acervo de Ellen Cansanção

A Praça Digital está localizada no centro de Parintins, delimitada pelas ruas Caetano Prestes, Benjamin da Silva e Avenida Clarindo Chaves, além de ficar próxima a importantes prédios públicos que fazem parte do espaço simbólico e histórico da cidade, como o Mercado Municipal Leopoldo Neves e antigo prédio da Prefeitura. Construída em 1951 na gestão do governador Álvaro Maia, o político foi o responsável por doar a cidade de Parintins a estátua do Cristo, na administração do prefeito Jesus Pinheiro.

A estátua do Cristo Redentor ficou localizada num ponto acessível aos olhos de quem fazia uso do lugar. Na década de 1960 a praça ganha calçamento, jardinagem, tem uma mudança na sua infraestrutura e a estátua, é inserida num totem maior dentro de um chafariz, ainda facilmente visualizado entre os frequentadores do lugar. É importante ressaltar que essa estátua representa um símbolo cultural e afetivo na memória da população parintinense.

Estátua Cristo Redentor no início da construção da praça - Foto: Acervo Ellen Cansanção

Entre 1956-1959, durante o mandato do prefeito Lourival de Albuquerque Filho, a praça ganha asfaltamento, jardim e iluminação. Em seu entorno encontrava-se moradias de 39 famílias tradicionais como Melo e Cohen, no setor da economia abrigava os empreendimentos como a “Casa Ideal” do comerciante Lico Mendes, um dos primeiros da cidade, e o posto Rio de propriedade da família Faria, a sede das organizações Maia e CANTEL, antiga torre de telefonia.

Em 1969, na gestão de José Esteves, o local passa por um processo de urbanismo e ganha características da modernidade, e em 2007 a praça passa por novas reformas na gestão de Frank Luiz da Cunha Garcia, a qual teve maiores transformações paisagísticas tornando-se como hoje é conhecida, Praça digital Cristo Redentor.

Na época, a praça foi divulgada como a primeira praça digital do norte do país, por oferecer sinal de internet. Logo, num primeiro momento, ela se apresentava como um mais novo ponto turístico da cidade. Nesta reforma ergueram a imagem original do Cristo em cima de um totem.

Para Bryan, a última modificação foi a maior que a praça passou, tanto que até o nome do local foi alterado, uma alteração que desprezou aspectos simbólicos e culturais da praça. Nas imagens abaixo, podemos notar a mudança brusca na paisagem da Praça do Cristo e da atual Praça Digital. A estátua do Cristo Redentor encontra-se em cima de um grande Totem, compondo a nova paisagem da praça distante das pessoas e, por sua vez, da cidade.

Praça Digital atualmente - Foto: Jornalismo Parintins

Segundo a pesquisa de Baima, apresentada em 2019, a mudança não atendeu os parâmetros exigidos no Plano Diretor do Município de Parintins, por meio do DECRETO Nº 375, de 05 outubro de 2006, em seu capitulo 2, artigo 10, discorre sobre a Paisagem Urbana e o Uso do Espaço Público, que define que as paisagens urbanas, entendidas como o cenário da cidade, resultante da interação entre os elementos naturais, edificados, históricos e culturais precisam ser preservados e ordenados, conservando a estética da cidade.

Praça Digital atualmente - Foto: Jornalismo Parintins

A perda da identidade do local

O pesquisador realizou ainda uma entrevista com 30 frequentadores da praça dos quais 9 tinham idade de 31 e 40 anos, e 29 tinham entre 30 e 60 anos, sendo 11 mulheres e 19 homens, em sua maioria moradores do Centro da cidade, e outros dos bairros de Palmares, São Benedito e São José. Em relação a identificação da antiga praça com a atual, todos se identificam com a antiga, e a descaracterização da paisagem da praça antes da reforma de 2007 mexeu completamente na paisagem da mesma que estão em suas memórias afetivas como podemos ver em seus relatos a seguir.

"Me identifico com a antiga, ela era mais simples porém era o retrato da cidade de Parintins; (entrevistado nª2); Com a antiga praça, porque quando criança vinha em família quase toda tarde e tenho boas lembranças daqui, como brincar de manja e bola (Entrevistado nº 11)".

Trecho da Praça que sofre com deslizamentos de terras devido a falta de infraestrutura adequada  - Foto: Jornalismo Parintins

O mesmo acontece quando perguntados sobre a identificação com o nome da praça digital, dos entrevistados todos disseram que não se identificam com o nome atual, o qual foi acrescentado a palavra digital no nome e ficou Praça Digital Cristo Redentor, como podemos ver nos depoimentos seguintes.

"Gosto mais do nome Cristo Redentor, e só a chamo por praça do Cristo, meus filhos conhecem como praça Digital e quando eu digo que vou na praça do Cristo eles ficam perdidos, não relacionam o nome à praça. (Entrevistado nº 1) Não gosto do novo nome da praça mais precisamos nos acostumar com as mudanças, mas não consigo falar praça digital eu só falo praça do Cristo. Até porque de digital não tem nada, apenas o nome. (Entrevistado nº 3)".

Praça Digital e a organização das lanchonetes, bar e restaurante - Foto: Emerson Chagas

Nos depoimentos Bryan observa que na área onde ficam os lanches, bares e restaurantes, apresenta-se como um espaço privado, sendo dos proprietários dos boxes da praça que oferecem esses serviços, pois os mesmos colocam suas mesas e só podem sentar quem for pagar para utilizar estes serviços. Assim, a maioria dos usuários da praça não se sentem confortáveis, uma vez que o ambiente parece mais com um lugar privado do que público. Na imagem acima podemos observar os dois pavimentos da Praça digital Cristo Redentor, e perceber como estão organizados os lanches e bar e restaurantes na composição da paisagem.

Parte inferior da Praça - Foto: Jornalismo Parintins

Os resultados da pesquisa

Com esses resultados, a pesquisa afirma que a memória afetiva dos entrevistados é remetida à praça nos moldes anteriores a reforma, apresentando inclusive, resistência em relação a nova configuração urbanística da praça. Este fato pode ser constatado quando perguntado sobre as antigas características da praça que hoje não possuem mais. Entre os entrevistados, a maioria destacou a localização da estátua do Cristo Redentor e chafariz onde tomavam banho quando mais jovens, o mesmo não foi feito para essa função porém era uma pratica costumeira e que ficou na memória afetiva dos entrevistados.

Antiga Praça Cristo Redentor e suas características - Foto: Acervo de Ellen Cansanção

Outros pontos da paisagem que eles guardam em suas memórias eram os comércios que existiam ao entorno da praça, como a Casas Pernambucanas; Posto Rio (um posto de gasolina); Cactos bar, onde muitos dos entrevistados relatam que costumavam ir nos finais de semana com os amigos; as bancas de revistas e barraquinhas de venda de guloseimas e refeições; a rua que passava no lado direto da praça e hoje que não existe mais; os lugares destinados para sentar; a arborização do lugar; o piso com azulejos coloridos e as pinturas decorativas em azul e vermelho. Com as informações obtidas, a pesquisa conclui que houve uma perda de identidade dos moradores de Parintins com o local, uma vez que os usuários veem a praça enquanto paisagem desconstruída.

 

Por: Vinícius Bellchior Bruce - Graduado em Comunicação Social – Jornalismo, pela Universidade Federal do Amazonas – Campus Parintins. 

Vinícius Bellchior - Equipe Jornalismo Parintins

 

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