Itaúna II: Conheça a história do segundo bairro mais populoso de Parintins sob a ótica de seus moradores

Sua origem se dá por meio de uma ocupação desordenada, desprovida da infraestrutura necessária para atender às demandas básicas da população, com destaque para a carência de saneamento básico

30/05/2023 às 18h58 Atualizada em 12/09/2023 às 12h08
Por: Redação
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Um dos trechos da bairro Itaúna II, em Parintins - Foto: Luziane Ferreira
Um dos trechos da bairro Itaúna II, em Parintins - Foto: Luziane Ferreira

Com a premissa de que a memória é um elemento fundamental para a identidade de uma comunidade, o site JORNALISMO PARINTINS, liderado pelos jornalistas Vinícius Bellchior e Ana Cristina Machado, enfrenta o desafiante projeto de retratar a história dos bairros de Parintins. Após uma primeira incursão narrativa pelo bairro Paulo Corrêa, agora trazemos à luz a fascinante história do Bairro Itaúna II, um desafio em razão da escassez de fontes disponíveis. Parintins, reconhecida mundialmente pelo seu prestigioso Festival Folclórico, com destaque para os icônicos Bois-Bumbás Caprichoso e Garantido, ergue-se como o segundo município mais populoso do Amazonas, ficando somente atrás da capital Manaus. Diante desse contexto, documentar minuciosamente a história de Parintins em todas as suas facetas, desde os seus bairros até a própria fundação da cidade, assume uma importância indiscutível.                                            

Nesta reportagem, serão utilizadas como fontes duas pesquisas intituladas "Saneamento e a Ocorrência de Doenças entre os Moradores do Bairro Itaúna II no Ano de 2012 na Cidade de Parintins/AM", de Joana Paula de Jesus Martins e João D’Anuzio Menezes de Azevedo Filho, e "Pelo Direito à Cidade: Histórias e Memórias de Mulheres nas Ocupações dos Bairros Itaúna II e Paulo Corrêa em Parintins", de Jheniffer Natividade Rodrigues e Mônica Xavier de Medeiros.                 

O bairro Itaúna II

Localizado nas áreas periféricas da cidade de Parintins, o Bairro Itaúna II desponta como resultado de um processo de ocupação irregular. Sua origem se dá por meio de uma uma ocupação desordenada, desprovida da infraestrutura necessária para atender às demandas básicas da população, com destaque para a carência de saneamento básico. Essa realidade revela os desafios enfrentados pelos moradores, que lidam com a falta de estruturas adequadas para garantir seu bem-estar e qualidade de vida. A história do Bairro Itaúna II reflete não apenas a questão habitacional, mas também a necessidade de políticas públicas efetivas para promover a regularização e o desenvolvimento das regiões periféricas da cidade.

Com uma população de 7.785 moradores, de acordo com os dados do censo realizado pelo IBGE em 2010, o Bairro Itaúna II destaca-se como o segundo mais populoso de Parintins. Essa estatística revela a relevância e a dimensão significativa desse bairro dentro do contexto urbano da cidade. O expressivo número de habitantes ressalta a necessidade de compreender e abordar as demandas e desafios enfrentados por essa comunidade em relação à infraestrutura, serviços públicos e qualidade de vida. A reportagem busca adentrar nesse universo, trazendo à tona as histórias, anseios e perspectivas dos moradores do Bairro Itaúna II, em busca de promover debates e soluções que impactem positivamente a vida dessas pessoas. 

Segundo a pesquisa “História e Memória: Da invasão ao processo de criação do bairro de Paulo Corrêa, em Parintins”, do professor Gilciandro Prestes de Andrade, na década de 1990, o Brasil vivenciava o seu processo de urbanização influenciado pela industrialização do país, sendo assim, a população rural deu início a uma concentração em massa nos grandes centros urbanos. Em Parintins não foi diferente, pessoas de movimentos sociais, juntamente com homens públicos se aproveitaram de um pequeno grupo no início sem terreno, para fazerem invasões pela cidade de Parintins. Esse crescimento desordenado do município, fez com que ocorresse um dos maiores êxodos rurais da história da cidade, influenciado pela origem de três bairros na época. O (Itaúna I, o Itaúna II) e Paulo Corrêa.

As ocupações foram marcadas por desafios econômicos e pela falta de influência política individual. Os ocupantes lutaram pelo direito a um pedaço de terra onde pudessem construir suas moradias. Infelizmente, o problema social urgente da falta de moradia não recebia a devida atenção do Estado, o que resultou na estigmatização dessas pessoas, frequentemente vistas como perturbadoras da ordem urbana.

A história do surgimento dos bairros Paulo Corrêa, Itaúna I e Itaúna II é a mesma. Devido a poucas informações documentadas sobre este período e as informações contraditórias disponíveis, recomendamos a leitura da nossa primeira reportagem da série sobre os bairros em que contamos a história do bairro Paulo Corrêa para compreender um pouco mais sobre o início conturbado dessas localidades.                                      

Os moradores do bairro

Durante uma entrevista conduzida pelas pesquisadoras responsáveis, Jheniffer Natividade Rodrigues e Mônica Xavier de Medeiros, tivemos a autorização de mencionar aqui alguns relatos de moradores, como o de Joana Darc, moradora do bairro Itaúna II há 20 anos, uma das fundadoras da Associação de Moradores, compartilha sua experiência:

"Pelos estudos dos meus filhos, vim para Parintins, a gente não tinha moradia, moramos com os outros, e daí nós fomos, nós começamos a nos tornar liderança dentro do bairro e aí a gente formou a Associação que já existia né, aí a gente começou a ajudar. (Joana Darc, 50 anos, entrevista realizada em 20/01/2020 pelas pesquisadoras Jheniffer Rodrigues e Mônica de Medeiros)”. 

Contando com o apoio de sua irmã, Dona Gê, uma das participantes desde o início da associação, Joana Darc conseguiu garantir um terreno para construir sua moradia. Desde os primeiros momentos da ocupação, segundo Joana Darc, as pessoas sempre trabalharam em prol do coletivo. Com sua mudança para a nova casa na ocupação, Joana Darc passou a fazer parte ativamente da Associação, contribuindo para sua evolução. "Nós éramos um grupo de senhoras, eu, a minha irmã, várias mulheres né, que a gente tinha esse grupo, pra gente conseguir as coisas pra dentro do bairro”, ressalta Joana Darc.

Iranei Costa de Jesus, moradora do bairro há 27 anos e dona de casa, compartilhou suas vivências e observações sobre a transformação do local ao longo do tempo. Ela recordou os primeiros tempos da ocupação, quando a falta de serviços básicos era evidente. "Aqui, logo no início da ocupação, não tínhamos luz elétrica nem água encanada. As ruas eram praticamente inexistentes, apenas alguns trechos que os moradores limpavam para conseguir se locomover", relembra Iranei. As condições das moradias também eram precárias, com casas de palha, madeira, papelão e lonas improvisadas.

A ausência de água encanada no bairro obrigava os moradores a buscar água nas ruas, utilizando baldes e garrafas pet. No entanto, Iranei ressalta as mudanças positivas que presenciou ao longo dos anos. "Presenciei a melhoria do bairro, o desenvolvimento das ruas, das casas, dos comércios, a construção de um posto de saúde e o aprimoramento das escolas", afirma.

Um momento marcante destacado por Iranei foi quando receberam o título de propriedade de suas casas. "Foi muito emocionante quando recebemos o título da nossa terra, da nossa 'casinha'. Aquilo representou um marco significativo para todos nós", conta com entusiasmo. Iranei também menciona a festa de São Sebastião, que inicialmente ocorria no bairro de Itaúna I, dedicada a Santo Antônio. No entanto, a igreja foi transferida para a invasão, ainda em seus estágios iniciais, e se tornou o local de celebração do padroeiro até hoje. "Na Rua 3, à noite, o bairro se animava com um grupo de danças. As pessoas se divertiam nos finais de semana com bandas de música ao vivo. Não tínhamos outro lugar para ir", acrescenta Iranei.

A moradora destaca a importância da liderança no bairro, mencionando o presidente que trabalhava incansavelmente em busca de melhorias e o papel da associação de moradores, que continua ativa até hoje, localizada na Rua 10. "Hoje posso dizer que o bairro evoluiu bastante. Eu amo esse lugar, meus filhos nasceram aqui. Meu conselho é que valorizemos as conquistas alcançadas e preservemos as tradições, como as quadrilhas, as pastorinhas e as festas religiosas", finaliza Iranei.

Maria do Carmo dos Santos, moradora do Bairro Itaúna II desde o nascimento, compartilhou suas percepções sobre a região. Ela destacou que, ao longo dos anos, algumas melhorias foram feitas, como o asfaltamento das ruas. No entanto, ainda existem alguns buracos. O sistema de esgoto, segundo ela, é precário, pois em dias quentes há problemas de abastecimento de água, que às vezes não chega ou é fornecida com pouca pressão nas torneiras. Ela recordou que antigamente o bairro contava com diversos estabelecimentos comerciais, como mercadinhos, pontos de venda de churrasco, placas anunciando produtos como flau, chopp e trufas. Porém, ao longo do tempo, muitos desses locais fecharam, resultando em uma redução das opções comerciais no bairro.

Maria do Carmo também ressaltou que a convivência com os vizinhos sempre foi positiva, mesmo diante da ausência de praças e clubes na região. No entanto, ela fez um apelo aos moradores para que evitem jogar lixo nas ruas antes do horário da coleta, pois isso atrai urubus e cachorros, tornando as ruas sujas e comprometendo o visual do bairro. "Aqui é um bairro muito tranquilo e alegre", afirmou Maria do Carmo, demonstrando seu apreço pela comunidade onde reside.

Natalina Nunes, de 61 anos, uniu-se ao movimento em uma fase mais avançada, quando já havia uma estrutura consolidada, com terrenos demarcados, ruas asfaltadas e espaços destinados a serviços sociais. Apesar de não ser membro oficial da associação, ela sempre se dedicou em buscar melhorias para o bairro, ciente da importância das questões coletivas.

Hoje o bairro Itaúna II abriga duas escolas municipais: a Escola Municipal Irmã Cristine e a escola Luz do Saber. Essas instituições educacionais são responsáveis por atender alunos do 1° ao 9° ano do ensino fundamental. Embora a maioria dos estudantes seja composta por moradores do próprio bairro, as escolas também acolhem alunos de outros bairros próximos. Os moradores contam com dois postos de saúde: o Aldrin Verçosa e o Centro de Saúde Irmão Francisco Galianni.

Trecho em frente a Escola Municipal Luz Saber - Foto: Luziane Ferreira

Durante as entrevistas realizadas no bairro, constatou-se que a carência de espaços de lazer é uma realidade para os moradores. Anteriormente, o único recurso disponível era o campo de futebol improvisado conhecido como "campo do gordo", pertencente à Diocese de Parintins, que atualmente não está mais em funcionamento. "Não existia praça, nem clube, mas até o momento não existe, tem o campo de futebol que já até fecharam” afirma Maria do Carmo.

Sendo o segundo bairro mais populoso de Parintins faz-se necessário o investimento no bem estar da população, seja na área da saúde, da educação, do lazer, segurança pública, entre outras. Saber a história dos bairros de Parintins é o primeiro passo para quem deseja conhecer a realidade do povo parintinense, e em consequência contribuir para o desenvolvimento da cidade e ao acesso a direitos básicos pela população da Ilha.

 

Por: Ana Cristina Ferreira Machado e Vinícius Bellchior Bruce - ambos graduados em Comunicação Social – Jornalismo, pela Universidade Federal do Amazonas – Campus Parintins.

Ana Cristina Machado - Equipe Jornalismo Parintins

Vinícius Bellchior - Equipe Jornalismo Parintins

 

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