Entenda a greve dos professores da rede estadual do Amazonas – Entrevista com Ana Cristina Rodrigues, presidente do Sinteam

A categoria pede entre outras coisas, o cumprimento da Lei 3951, de 4 de novembro de 2013

27/05/2023 às 14h04 Atualizada em 21/08/2023 às 19h25
Por: Vinícius Bellchior
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Professores durante mobilização em Manaus - Foto: Divulgação/Sinteam
Professores durante mobilização em Manaus - Foto: Divulgação/Sinteam

Deflagrada no dia 17 de maio, a greve dos profissionais da educação da rede estadual do Amazonas abrange até o momento 54 municípios do estado dos 62. A categoria pede entre outras coisas, o cumprimento da Lei 3951, de 4 de novembro de 2013, que institui o Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração dos servidores da Secretaria de Estado de Educação e Qualidade de Ensino (SEDUC), principalmente o seu artigo 39 que diz: “fica estabelecido o dia 1º de março de cada ano como data base para reajuste do vencimento e da remuneração dos servidores abrangidos por este Plano”.

De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado do Amazonas (Sinteam), desde 2022, a lei não é cumprida pelo governo de Wilson Lima (União Brasil), o que soma 25% de defasagem salarial.

Para comentar mais sobre o movimento, às pautas reivindicadas, pressão do Governo do Estado e em como a sociedade pode se unir à luta dos professores, o Jornalismo Parintins entrevistou por e-mail a presidente do Sinteam, Ana Cristina Rodrigues.

Professora Ana Cristina Rodrigues - Foto: Reprodução/Facebook

Confira a entrevista:

Jornalismo Parintins - Gostaríamos que a senhora comentasse um pouco mais sobre o seu perfil e formação profissional.

Ana Cristina Rodrigues - Meu nome é Ana Cristina Rodrigues, tenho 57 anos, sou pedagoga concursada das redes municipal de Manaus, da qual já estou aposentada, e estadual, e estou presidente do Sinteam desde 2019.

Jornalismo Parintins - Quais são as principais reivindicações que a mobilização pede ao Governo do Amazonas?

Ana Cristina Rodrigues - Nossa pauta de reivindicações passa, em sua maioria, pelo simples cumprimento da Lei 3951 de 4 de novembro de 2013, que preconiza sobre o reajuste salarial anual no dia 1º de março de cada ano; o cumprimento das progressões por titularidade e tempo de serviço, que estão atrasadas desde 2018 e fazem parte da Revisão do Plano de Cargos, Carreira e Salários, reajuste do vale-alimentação e do auxílio-localidade e também manutenção do plano de saúde com atendimento na capital e interior e extensão para os aposentados.

Jornalismo Parintins - Como a senhora avalia a atuação dos deputados(as) da Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (ALEAM) referente a greve e às reivindicações da categoria?

Ana Cristina Rodrigues - Eles até tentaram buscar esse diálogo com o governo, com destaque para o deputado Cabo Maciel, que é presidente da Comissão de Educação da ALEAM. O deputado Wilker Barreto também se sensibilizou, assim como a deputada Joana Darc, mais recentemente. O problema é que o Governo não quer mesmo o diálogo. Estamos tentando desde janeiro. Nos anos anteriores, tentamos centenas de vezes e também não fomos atendidos. Voltando para a ALEAM, é a casa do povo e eles não podem nos impedir de ir lá, embora na última quinta-feira tenhamos sido recebidos pela tropa de choque e pela Rocam, provavelmente a mando da presidência da Casa.

Jornalismo Parintins - Como presidente do Sinteam, o que a senhora tem a dizer aos pais dos alunos que estão sem aulas no momento e a questão da reposição de aulas após o fim da paralisação?

Ana Cristina Rodrigues - Nós temos compromisso com a educação. Meus filhos estudaram a vida toda em escola pública. Quando a gente negocia as faltas, as aulas são repostas sem prejuízo aos estudantes. No entanto, ontem (26), o governo lançou as faltas e o desconto no contracheque e deixou claro o descompromisso não só com os trabalhadores, mas também com os estudantes e com a sociedade, pois o desconto desobriga os trabalhadores de reporem os dias de greve.

Jornalismo Parintins - No último dia 16 de maio, o desembargador Domingos Chalub, do Tribunal de Justiça do Amazonas, proibiu a greve dos educadores e impôs multa diária de R$ 30 mil ao sindicato, porém, os professores mantiveram a mobilização na capital e no interior, o que a senhora tem a comentar sobre o assunto?

Ana Cristina Rodrigues - Era uma decisão liminar e cabe recurso. Estamos recorrendo. Temos convicção de que nossa greve é legal e está amparada pela Lei. Vamos até as últimas instâncias provar que estamos agindo dentro da lei por uma pauta justa. Quem descumpre a lei não somos nós. Pelo contrário, os trabalhadores em educação querem o cumprimento da lei da data-base.

Jornalismo Parintins - Os professores são responsáveis por formar todas os profissionais de todas as áreas, sendo a base de qualquer formação, ou o principal meio de alguém adquirir conhecimento. Não é de se espantar que em 2023, no século XXI, os precursores de uma sociedade ainda tenham que realizar greves para que o Estado cumpra o que é garantido por lei a categoria?

Ana Cristina Rodrigues - Eu acho triste, mas vale ressaltar que tudo o que os trabalhadores conquistaram até hoje foi na base da luta. Se hoje temos direitos trabalhistas, foi na base da pressão. Hoje não é diferente.

Jornalismo Parintins - O que já se conseguiu de negociações com o Governo do Estado?

Ana Cristina Rodrigues - Da pauta de 2023, nada.

Jornalismo Parintins - Wilson Lima promete lançar a estratégia de aulas online durante essa greve dos profissionais da educação, como ficaria essa situação sendo que 54 municípios do Estado aderiram à paralisação?

Ana Cristina Rodrigues - É contraditório, pois em 2020, fizemos greve sanitária quando não havia ainda vacina para a Covid-19 e sugerimos continuar as aulas online e eles negaram. Agora, as aulas online são a solução.

Jornalismo Parintins - Outra questão que você tem levantado é um possível assédio moral do Governo do Estado em relação aos professores, como estaria acontecendo essa situação?

Ana Cristina Rodrigues - Gestores estão chamando os trabalhadores e ameaçando retirar a carga complementar e ontem a ameaça foi cumprida com o desconto nos contracheques. Denunciamos à Defensoria Pública, vamos acionar a justiça contra as faltas para que o Governo nos ressarça em dobro pois alterou a folha fora do prazo com o objetivo de prejudicar mesmo e também pratica violência psicológica contra os pais quando diz que as crianças vão reprovar por não estarem indo pra escola – sendo que não tem servidor, pois estão em greve – e também diz que eles vão perder o bolsa-família por causa das faltas.

Jornalismo Parintins - Há 4 anos, o sindicato também deflagrou uma greve da categoria, o que não foi resolvido para o sindicato se manifestar novamente?

Ana Cristina Rodrigues - A falta de diálogo é o principal motivo. 

Jornalismo Parintins - Como a sociedade amazonense pode apoiar o movimento e as reivindicações dos professores?

Ana Cristina Rodrigues - A sociedade pode se unir ao movimento dos trabalhadores em educação indo nas manifestações, pode se manifestar também nas redes sociais e cobrando não só o Governo nas redes sociais mas também os deputados estaduais. Toda pressão ajuda.

 

Por: Vinícius Bellchior Bruce e Ana Cristina Ferreira Machado – ambos graduados em Comunicação Social – Jornalismo, pela Universidade Federal do Amazonas – Campus Parintins.

 

Vinícius Bellchior - Equipe Jornalismo Parintins

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