O retrato do cotidiano amazônida – Entrevista com o artista parintinense Inácio Paiva

O cotidiano de quem mora entre a floresta e o maior rio do mundo, numa simbiose que nas mãos de Inácio, transforma-se em arte

17/05/2023 às 08h35 Atualizada em 21/08/2023 às 19h24
Por: Vinícius Bellchior
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Arte intitulada
Arte intitulada "Ribeiro de fé", de Inácio Paiva - Imagem: Arquivo pessoal

Muitos falam sobre a Amazônia, mas ninguém fala melhor sobre a maior floresta do planeta quem tem no seu DNA a vivência e a experiência em ser um amazônida. Sejam jornalistas, escritores, pintores, músicos, poetas e tantos outros que tem a Amazônia a sua fonte de inspiração.

É nesta vivência amazônica que o entrevistado de hoje do JORNALISMO PARINTINS, o artista visual parintinense Inácio Paiva, de apenas 23 anos, se encontra. Residente na comunidade Bom Socorro do Zé Açu, localizada cerca de 40 minutos de Parintins em embarcação tipo lancha, é lá que o artista encontra a base de sua inspiração – o cotidiano de quem mora entre a floresta e o maior rio do mundo, numa simbiose que nas mãos de Inácio, transforma-se em arte.

Artista visual Inácio Paiva - Foto: Arquivo pessoal

Para adquirir ou encomendar trabalhos de Inácio Paiva, é só entrar em contato pelo WhatsApp (92992267897) ou pelas redes sociais do artista no Facebook ou Instagram.

Confira a entrevista:

JORNALISMO PARINTINS - A partir de que momento você descobriu que a arte era a sua vocação?

Inácio Paiva - Desde a escola eu já costumava desenhar. Normalmente na escola a gente começa a desenhar com letras, foi nessa época em que eu comecei a pegar o gosto por desenhos. Eu gostava de ver vídeos de pessoas desenhando, fotos de desenhos, trabalhos artísticos e paisagens. Daí então eu quis fazer um curso, que seria pago. Aí um dia, deu um aviso na rádio que estavam abertas as inscrições no Liceu de Artes e Ofícios Cláudio Santoro, foi em meados de 2017, no segundo semestre.

A partir desse aviso na rádio, a minha mãe no outro dia foi me inscrever, no ano eu tinha 17 anos. Quando eu cheguei lá, eu conheci o mestre Josinaldo Matos, daí então ele começou a passar exercícios de iniciação a desenho e pintura. Eram exercícios bem simples de composição e luz e sombra da figura. Eu me lembro que o curso era de terça e quinta, pela manhã. Para mim foi muito difícil, pois eu ainda estava estudando no terceiro ano do ensino médio, e eu tinha que ir e voltar para a minha comunidade.

Eu acordava às 4 horas da manhã para chegar em Parintins às 6 horas. Era difícil porque a minha situação financeira não era uma das melhores, eu tinha que pagar passagem. Foram dias bem difíceis do começo da minha vida artística, mas no entanto eu peguei gosto mesmo pela arte. O curso era composto por várias etapas e a anatomia é uma delas, no primeiro semestre de 2018 eu comecei na anatomia. Foi quando eu comecei a desenhar olhos, boca, nariz e rosto. E com a prática desses exercícios eu comecei a pegar algumas encomendas que o mestre sempre repassava para nós.

Eu comecei a ganhar um dinheirinho e daí então eu venho trabalhando assim: eu pego as encomendas e cobro um valor. Com a prática desses desenhos e encomendas eu vi que eu tinha uma certa facilidade em fazer um bom trabalho. No início eu não esperava esses resultados, mas isso é fruto de muita persistência, dedicação e muita prática. Pratico todos os dias. A arte tem-se feito presente na minha vida desde então, e com o apoio da minha família eu tenho conseguido persistir no mundo da arte.

JORNALISMO PARINTINS - Qual o conceito que você aplica em sua arte?

Inácio Paiva - Além de retratar a figura indígena, a fauna e flora da Amazônia, eu busco retratar o lugar onde vivo, que é o zé Açu. Nele tem o ribeirinho, o caboclo, o pescador, o roceiro, o curumim pescando na beirada de caniço, e através de telas, aquarelas e até desenhos, eu busco levar esse cotidiano até quiçá para fora do Amazonas. É o lugar que desde pequeno eu vivo. Eu queria uma identidade visual para mim, daí eu pensei, “Por que não retratar o lugar onde eu moro?”, então essa ideia vem fluindo desde então. E é isso que me encanta, retratar essa raiz do nosso cotidiano. Daí então quando as pessoas verem – e até sentirem - esses trabalhos, elas verão como é o meu cotidiano. É isso que eu busco retratar nos meus trabalhos.

JORNALISMO PARINTINS - A que lugares ou momentos que você considera importante o seu talento como artista já o levou?

Inácio Paiva – O lugar mais longe que uma arte minha chegou no Rio de Janeiro, através do site Amazônia Arts, do qual eu sou membro, esse site é de vendas de obras de arte. Então aconteceu uma exposição para conhecerem a arte parintinense, que até então não conheciam. Além de outros trabalhos que a gente faz no tempo do festival. Também temos a exposição “Parintins em Cores”, que eu também sou membro. Então a gente não sabe para onde vai os nossos trabalhos, já que são estrangeiros que vem, na maioria das vezes são eles que compram nossas artes. Então podem estar na casa de uma pessoa qualquer, num país qualquer. Nunca saberemos.

JORNALISMO PARINTINS - Sendo morador de uma comunidade rural da Amazônia, qual o sentimento de transmitir a riqueza natural do cotidiano de quem mora entre a floresta em seu trabalho?

Inácio Paiva – O sentimento de muito orgulho, porque eu retrato aquilo que eu vivo desde pequeno, por exemplo um menino pescando na beirada – eu já fui esse menino – e hoje eu retrato ele. O pescador atando a sua malhadeira, eu via meu pai fazendo isso. É muito orgulho em poder levar, quiçá mundo afora, esse meu cotidiano.

Obra intitulada "Luz cabocla"

JORNALISMO PARINTINS - Você acredita que os artistas parintinenses são pouco apoiados pelo Governo Municipal e Estadual?

Eu ainda não tenho muito essa visão pois ainda estou começando nesse ramo da arte, mas o pouco que eu tenho de vivência artística, eu acredito que se houvesse um pouquinho mais de interesse eu acho que ajudaria bastante a vida artística do parintinense. Nesses anos que passaram houveram sim alguns projetos de lei que fomentaram bastante a vida artística do parintinense. Acredito que se seguissem esse caminho de projetos ajudaria muito.

JORNALISMO PARINTINS - Quais são as suas metas para o futuro em relação ao seu trabalho?

Inácio Paiva – É poder levar meu trabalho para o Amazonas todo e também para fora do Brasil e ser reconhecido, ganhando novas experiências e novas ideias, e quem sabe, um dia poder passar todo esse conhecimento e experiências para as novas gerações de artistas do lugar onde vivo. Acho que é preciso que essas experiências sejam repassadas para as novas gerações, na verdade é fundamental para que a arte viva.

 

Por: Vinícius Bellchior Bruce e Ana Cristina Ferreira Machado – ambos graduados em Comunicação Social – Jornalismo, pela Universidade Federal do Amazonas – Campus Parintins.

Vinícius Bellchior - Equipe Jornalismo Parintins

Ana Cristina Machado - Equipe Jornalismo Parintins

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