A avaliação da atuação de veículos de comunicação deve ser realizada constantemente por donos de grupos de comunicação, profissionais e o público. O mundo está mudando o tempo todo e as formas de abordagens também. É uma necessidade que ajuda na melhoria e orientação de um serviço mais eficiente e adequado às necessidades sociais. Jornalismo é serviço e tem que ser responsável, sobretudo em tempos de crise. Sem cuidado, algumas coberturas podem gerar grandes dores de cabeça.
Nesta segunda-feira um jornal local de Parintins passou cerca de 10 minutos abordando pautas relacionadas à segurança nas escolas do município. O que poderia (deveria, na verdade) ser tratado com atenção e apuração, foi tratado de forma inapropriada, como se fosse um B.O. qualquer. O canal trouxe uma série de “denúncias de massacres” planejados nas escolas de Parintins. Aliás, “massacres”, no plural, foi uma palavra repetida uma dezena de vezes e sempre com muita ênfase, mais um ponto importante para se observar.
Na edição, as matérias abordavam basicamente registros de ocorrências na delegacia da cidade. Pelo menos 5 supostas ameaças teriam sido registradas. Todas com as mesmas características: “fulano recebeu uma imagem com ameaça de massacre numa escola da cidade (detalhe importante: nunca se falava o nome da escola); “Beltrano recebeu um print com ameaça de massacre em uma escola do centro”; “ameaça de massacre para um servidor de uma escola do bairro tal”. Essa similaridade das denúncias já dava sinais de que a pauta precisava de mais apuração jornalística, até para evitar problemas e não ficar só nas ameaças. Mas não foi bem assim que aconteceu. B.O. na mão e toma-lhe informação.
Se a preocupação era garantir a segurança, que se falasse o nome da escola, quem recebeu a ameaça, as medidas adotadas para investigar o caso e a cobrança para identificação dos suspeitos. Com um pouco mais de observação, dava para suspeitar das características das mensagens. Muitas tinham o mesmo texto ou usavam as mesmas imagens de ameaças que já circularam em outras localidades do país. Não teve apuração dos fatos e parece que esse não era o objetivo.
Uma dose de sensacionalismo, com uma pitada de pânico e a receita de terror e medo ficou no ponto. Resultado: falta em massa de alunos nas escolas de Parintins. Situação também se estendeu para outros municípios da região.
Pois bem, todos nós ainda estamos muito assustados com o que aconteceu em Santa Catarina. O caso gerou muita comoção e questões que devem ser discutidas em todo país. Mas tem muita gente se aproveitando da situação para disseminar mentiras, gerar um ambiente de medo, tentar provocar caos. As redes sociais são um ambiente propício para isso, não é novidade. Tem gente que dissemina informações falsas por puro prazer, sempre com a certeza do anonimato, sempre convicto que nunca será descoberto.
Ainda não se sabe se há uma pessoa ou grupo por trás dessa enxurrada de ameaças após o caso de atentado em Blumenau. Fato é que se o objetivo era criar um ambiente de terror, estão conseguindo. E pior, fazem isso com a ajuda de profissionais da comunicação.
Zelo no trato da informação e cuidado com a abordagem para evitar consequências prejudiciais para a sociedade deveriam ser princípios do jornalismo. Não dá para sair publicando informações a esmo sem dimensionar a confusão que isso pode gerar. Mas não nos deixemos enganar, tem gente que sabe da confusão e às vezes é irresponsável por conta de audiência ou curtida.
Conversei com algumas pessoas que dirigem e trabalham em algumas escolas de Parintins. Todas ressaltaram que após o episódio de SC, a preocupação aumentou bastante. Ressaltaram que boletins de ocorrência foram registrados por questões de segurança. Seja a informação falsa ou não, o caminho é esse: chegou a mensagem, percebeu o tom de ameaça, partiu delegacia. É protocolo, ainda mais diante dos acontecimentos recentes. Casos estão sendo investigados pelas autoridades de segurança. No entanto, as “denúncias” têm a mesma forma, muda o bairro, a escola, o profissional, o aluno ameaçado.
A Secretaria de Estado de Educação e Qualidade de Ensino do Amazonas (Seduc) informou que monitora as ocorrências e está tomando providências. Controle de acesso às escolas com suspensão de atividades que favoreçam a entrada de pessoas externas à comunidade escolar, proibição do uso do celular na sala de aula e até a proibição do uso de acessórios pelos alunos são algumas das medidas.
Alguns pais e mães, preocupados, são mais radicais. Nas redes sociais está cheio de relato com promessas de nunca mais levar os filhos para escola enquanto não tiver policiamento dentro do âmbito escolar.
Quanto imprensa, relatamos fatos, apuramos informações, cobramos providências. É necessário discutir medidas para garantir mais segurança dentro das escolas, nas ruas, em todo lugar. Mas diante do caso das ameaças em Parintins, nosso foco também é discutir a atuação da nossa categoria. Precisamos ser mais responsáveis.
Várias emissoras anunciaram mudanças na cobertura de acontecimentos como o ocorrido em Blumenau na semana passada. São séculos de atuação e uma infinidade de coberturas jornalísticas sobre os mais variados assuntos possíveis e ainda descobrimos que precisamos fazer adequações para melhorar o serviço, para contribuir com mais qualidade, para nos adequarmos à nova realidade. A cobertura da imprensa local precisa seguir a mesma linha e pegar esse caso das supostas ameaças à segurança nas escolas de Parintins para fazer reflexões e mudanças necessárias. Isso vale para todos nós.
Num meio onde cada grupo estabelece uma linha editorial própria, a régua do que fazer e o que não fazer é muito particular e depende da empresa. Noutra ponta, a escolha do que consumir é do leitor/ouvinte/telespectador. Dizem que todo palhaço precisa de um palco para ser alguém.
Para concluir, tem um mantra no mundo da nutrição que diz o seguinte: você é aquilo que você consome. Portanto, cuidado com aquilo que você se alimenta. Vale para a comida, vale para o jornalismo.
Por: Jean Beltrão - Correspondente da Rede Amazônica em Parintins
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