A Parintins de quem ainda não tem o básico - ou o mínimo para viver

Longe do centro da ilha tupinambarana e dos registros fotográficos dos cartões-postais, ainda prevalece - ou deveria prevalecer - os mesmos direitos fundamentais garantidos pela Constituição Federal. Leia a crônica completa do jornalista parintinense Vinícius Bellchior:

15/08/2024 às 11h18 Atualizada em 15/08/2024 às 11h38
Por: Vinícius Bellchior
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Foto de um trecho da orla de Parintins, especificamente a Praça do Comunas - Foto: Paulo Sicsu
Foto de um trecho da orla de Parintins, especificamente a Praça do Comunas - Foto: Paulo Sicsu

Longe do centro da cidade de Parintins, distante dos cartões-postais que são utilizados a exaustão por quem tem muito interesse em esconder que a cidade também enfrenta problemas seríssimos e básicos, ainda prevalece - ou deveria prevalecer - os mesmos direitos fundamentais garantidos pela nossa Constituição Federal. O desabafo exposto aqui é de uma moradora do Vila Cristina, um dos - quase - bairros mais distantes do centro da Ilha Tupinambarana.

Foi na noite de sexta-feira (9/8), sob a fase da lua crescente em meio ao clima quente e úmido da Amazônia. O direito ao básico exigido pela moradora veio por meio de uma reunião política, próximo a rua principal que dá acesso ao - quase - bairro. Ela e mais outros moradores, tiraram um tempo de uma noite comum para conversarem sobre os problemas do local e adjacências, ou melhor, sobre direitos básicos. Nada mais do que o mínimo para viver.

Sob o escuro da noite e o clima quente e úmido da Amazônia, moradores conversam sobre direitos básicos 

Atentamente, eu, um interessado em ouvir as pessoas por meio do jornalismo, escutava os moradores pedindo acesso a água potável, a saúde pública, asfaltamento e outras coisas mínimas para se viver dignamente. Lá pela tantas, um desabafo chamou-me a atenção. “Parece que a cidade é só o centro”. E então a moradora completou: “Publicam fotos como se a cidade só fosse aquilo”.

A sensação de não pertencimento da moradora vai além dos quilômetros de distância do centro da cidade, ela também faz parte um Brasil esquecido em comparação aos grandes estados brasileiros. O famoso eixo Rio-São Paulo, é onde o país acontece e tudo parece importar. O restante é selvagem, peculiar, exótico.

O não pertencimento também se explica porque o Residencial Parintins, local que fica nas dependências do loteamento Vila Cristina - loteamento que ainda não foi transformado em bairro pela prefeitura. Apesar do projeto já está na mesa do prefeito, até agora nada. É válido lembrar que os impostos continuam sendo pagos pelos moradores como quaisquer outros cidadãos brasileiros.

Não pertencer vai além, para conseguirem morar no Residencial Parintins, foi necessário ocupar o espaço em 2019. O projeto é da Caixa Econômica Federal e, os moradores, foram definidos em sorteio, em 2012. Cansados de esperar, os sorteados ocuparam as suas moradias. É luta até para conseguir um espaço digno para morar. É um Brasil que não se discute no Congresso Nacional, na capital federal, Brasília.

“A gente espera que o senhor volte aqui ao menos para agradecer os votos”. Uma outra moradora, exausta de ser enganada por promessas não cumpridas, deixa logo o seu recado para o pré-candidato. Ela e os outros, não tem preferência partidária, candidatos ou ideologias políticas, são pessoas comuns fazendo o que no Brasil é rotina diária - cobrar o básico.

Distante do que é propagado pela grande maioria dos meios de comunicação locais e fotografias editadas na Internet, está o cidadão comum levando a sua vida comum. Cobrando o mínimo para viver.

Por: Vinícius Bellchior Bruce - Graduado em Comunicação Social - Jornalismo, pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM) - Campus Parintins. 

Vinícius Bellchior - Equipe JORNALISMO PARINTINS 

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