A depressão é como uma espécie de desmatamento mental, causada muitas vezes por “agentes” desconhecidos que só são descobertos por meio de tratamento psicológico, assim como são descobertos os desmatadores da Amazônia somente após uma rigorosa investigação dos órgãos competentes.
Mas não estou sozinho nesse inferno psicológico que pode ser causado por fatores genéticos ou sociais, por exemplo. De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil é o país com maior prevalência de depressão da América Latina. No mundo estima-se que 300 milhões de pessoas de todas as idades, sofram com esse transtorno. Um problema grave que deve ser tratado com a devida urgência pelos órgãos e autoridades públicas.
Em Parintins, o Centro de Atenção Psicossocial Adolfo Lourido (CAPS II), localizado ao lado do Hospital Regional Jofre Cohen, oferece atendimento psicológico de segunda a sexta-feira. É por lá que realizo o meu tratamento com psicólogo, psiquiatra e também com o uso de medicações contra o que é considerado atualmente o mal do século – a depressão.
Cito Clarice Lispector porque a escritora brasileira também sofria de depressão, principalmente nos seus últimos anos de vida. A sua literatura é repleta de expressões que sugerem o sofrimento psicológico e o cansaço com a própria existência. Em 1977, em entrevista à TV Cultura, meses antes de sua morte, Clarice realmente aparentava abatimento e suas respostas curtas ao entrevistador caracteriza alguém que não estava muito a fim de conversa. “Só estou triste porque eu estou cansada”, desabafa a escritora.
Em outro momento da entrevista, o jornalista questiona Clarice sobre qual seria o momento da vida em que o ser humano torna-se triste e solitário. “A qualquer momento da vida, basta um choque um pouco inesperado, e isso acontece”, responde a escritora.
Lispector também demonstra descontentamento com ela mesma. “Sei lá, estou meio cansada de mim mesma”, e finaliza: “Bom, agora eu morri. Vamos ver se eu renasço de novo”.
Os depressivos entendem as declarações de Clarice. Existem dias que um cansaço existencial profundo nos invade por completo, falta ânimo para levantar da cama e sobra pensamentos negativos sobre tudo. É uma mistura de muitos sentimentos que nos sobrecarregam, e a gente desaba esperando que de alguma forma, o nosso sofrimento chegue ao fim.
Dias de isolamento também fazem parte de nossa rotina, não queremos saber de nada e de ninguém. Ficamos perdidos em algum lugar cheios de questionamentos existenciais, inseguros, ansiosos e acompanhados de uma sensação de derrota e fracasso. O tratamento psicológico busca nos resgatar. Eu mesmo não consigo enxergar um fim para tudo isso. É uma vida de fases mentais excelentes em que a vontade de viver ultrapassa a própria vida e de outras de um desânimo quase infinito. Basta um choque um pouco inesperado – como diria Clarice, e volto a ficar em carne viva.
Encerro esta minha crônica com uma citação do livro “A Obscena Senhora D”, da grande poeta e escritora brasileira, Hilda Hilst: “D de Derrelição, ouviu? Desamparo, Abandono, desde sempre a alma em vaziez, buscava nomes, tateava cantos, vincos, acariciava dobras, quem sabe se nos frisos, nos fios, nas torçuras, no fundo das calças, nos nós, nos visíveis cotidianos, no ínfimo absurdo, nos mínimos, um dia a luz, o entender de nós todos o destino, um dia vou compreender, Ehud compreender o quê? isso de vida e morte, esses porquês”.
“ISTO NÃO É UM LAMENTO, é um grito de ave de rapina. Irisada e intranqüila. O beijo no rosto morto.
Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém.
Provavelmente a minha própria vida. Viver é uma espécie de loucura que a morte faz. Vivam os mortos porque neles vivemos.”
- Clarice Lispector
Por: Vinícius Bellchior Bruce - Graduado em Comunicação Social – Jornalismo, pela Universidade Federal do Amazonas – Campus Parintins.
Vinícius Bellchior - Equipe Jornalismo Parintins
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